segunda-feira, 4 de maio de 2015

Anestesia

,De gole em gole buscava alguma sensação, ler aquilo havia lhe deixado anestesiada, não estava sentindo nada, nem vazio. Bebeu, bebeu muito e aquele nada, que nem constituía um vazio, não passava. É  lógico que ela sentia algo, só não sabia identificar, afinal, nunca sentira nada parecido. Era como ela tivesse engolido um abismo, desses abissais. Talvez por isso a bebedeira não ajudou, apenas transformou o abismo numa fossa tão profunda quanto a das Marianas (jogue no Google). Nem conseguia estruturar pensamento, nem pensava em nada, mas chorava. Era a primeira vez que ela bebia sozinha, escolheu o pior bar para fazer isso, um tosco com musica ruim,achou que assim não encontraria ninguém do seu circulo. Encontrou! Um ex babaca que tentou que ela contasse o porque chorava. Ela estava em seu nível máximo de degradação, mandou tomar no cu sem ressentimento. Ele saiu imediatamente. Chorou mais, arrumou briga no banheiro e foi embora. Pensou que estava vivendo a vida errada, que aquela era a vida de outra pessoa e não a dela, fechou os olhos com fé e imaginou que poderia abri-los em outra realidade, mas quando os abriu ainda estava num C3 branco modelo 2014, um pouco embriagada e totalmente desnorteada no meio da Avenida Júlio Buono, zona norte da maior cidade da América Latina. Queria ligar para alguém, queria alguém que abraçasse com toda a verdade do mundo, mas estava envergonhada de ligar para os amigos numa situação de desespero, depois de abandona-los por tanto tempo. Percebeu outra vez o abismo que havia engolido, viu que era na verdade maior do que sentiu. Essa ausência de tudo estava levando ela a um surto. Ligou o carro e correu, correu, correu sem imaginar rota ou destino, estava em tão alta velocidade que os pensamentos não a alcançaram, ela só corria e não sentia e nem pensava. Não havia nem dor, mas o vazio ainda estava. Em 5 segundos acabou com abismo e com ela mesma, bateu em altíssima velocidade contra a parede da escola em que concluiu o colegial. Deixou uma interrogação e uma dor terrível. O culpado nem soube que era assassino, deitou-se no caixão como se pudesse chorar aquelas lágrimas.

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