quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Gotas

O amor me apareceu
cinicamente no ponto de ônibus
eu dei um trago, depois disse não.
Então, a vida me ofereceu,
numa reunião de ex alunos da escola,
um copo de amor .
Eu bebi umgole, sorri
 e educadamente
 recusei a bebida.
Num dia ocioso,
 o amor me sorriu
com um belo sotaque,
um latifúndio de amor,
mas eu logo disse não,
 sem provar.
Madrugada a dentro
alguém derramou em mim
por descuido, um pouco de amor,
as cinzas de seu amor antigo...
gotas que ficam no fundo do copo.
 Eu fui  fundo sem saber
que tão perigoso quanto se atirar ao mar,
 é tentar mergulhar em gotas.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ela sempre vai amar o próximo

Eu sempre vou amar o próximo porque chegará o dia em que suas palavras se repetirão.
 Ela vai amar o próximo porque conhecerá todas as suas máscaras.
 Eu amarei o próximo porque o seu sorriso não se modificará.
Ela sempre vai amar o próximo porque ela odeia lagoa.
 Odeia calmaria, prefere a incerteza do mar revolto.
Sempre amaremos o próximo, porque deus mandou.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O mar e o mundo

Os efeitos de um barco que naufraga na margem,  são menores que os efeitos de um barco que naufraga em meio ao índico, mas um barco que naufraga na margem não poderá dizer nada sobre o índico.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Desistir é sempre uma tentação

Mais uma madrugada e eu permaneço inerte na mesma poltrona, levantei  algumas vezes apenas para necessidades básicas. Sinto que lhe espero, mas não estou a lhe esperar, afinal, você não volta. Sinto cada dia mais forte, que esse é o fim da nossa história e agora, da minha vida. Acabou a comida, mas não sairei desta casa, vou definhar aqui, morrer onde mais tem seu rastro, morrer nessa casa, que é um mar de lembranças suas. Morrer aqui, assim, esperando você que não volta. Morrer aqui, na poltrona, derrotado, tão morto quanto você está agora, talvez mais. Morrerei assim, como um desistente, um inconsolável que não suportou as ironias da vida.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A madrugada ataca


A madrugada é receptáculo de tudo que vaga
De tudo que paira, de tudo o que há

A madrugada guarda gozo e melancolia
É selvagem e segura sem ser contraditória, é carnaval no fim do dia
Despeja suas lástimas como açoite nos corpos culpados

A madrugada salta a janela do meu quarto
Quebra a vidraça, rasga multidões
Espalha seu coro por sobre os rojões do céu estrelado
Trabalho pintado da cor de morfeu

A madrugada devassa me encobre
Protege somente seus filhos
Do lado da cama me deito
Espero o refreio do clima neon...
Castigo a alvorada, mergulho na graça da morte do som.


Luzia e Bruno Cruz

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Verdade

Você é de longe a estrutura que eu mais admirei em toda minha vida, digo estrutura por não ter certeza que você é humana, não estou brincando quando digo isso. Te vejo grande, gigante e pequena, acho que de tão genial e grande, vive se esbarrando pelos móveis da casa, que é o mundo. Sua grandeza assusta as pessoas, elas então precisam te machucar para se sentirem melhores, maiores e mais belas que você, mas é claro que isso é em vão. Fico olhando os seus olhos e vejo como eles são verdade, não são verdadeiros, são a própria verdade. Isso assusta, estranha. Eu já pensei que esse mundo não fosse para você, já pensei que as almas deste lugar nunca vão atingir o seu nível de passionalidade e de fé, pensei que é um erro deixar você aqui, mas talvez seja um erro te deixar ir para longe.
Te amo e te beijo como uma filha beija uma mãe.

sábado, 18 de maio de 2013

A poetiza não amava

Ela se dizia poetiza, mas não amava ninguém, queria traduzir sentimento sem sentir nada. Ela acreditava em bons mandamentos, mas não os seguia. Ela proferia mentiras que nem mesmo acreditava. Ela criticava as coisas que mais desejava, caluniava quem dizia amar. Ela era uma grande mentirinha pequena, mas tinha um ego maior que saturno. Mesmo envolvidas em belas mentiras, não atraía ninguém.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Sem poética, mas com verdade.

Eu não escrevo há alguns dias, eu não sabia o que escrever, não havia sobre o que escrever, eu não queria escrever.  Você não me escreveu, nem me ligou, nem pegou o bendito do avião para vir finalmente me ver, mas você disse que me quer, disse que quer me reencontrar, isso já é o bastante para eu querer escrever algo.  Sem filosofia, sem poética, sem rima, sem métrica. Só quero contar para todos que se destinam a ler isso, em algum lugar do tempo, que quem escreve  aqui, nesse dia atípico de chuva no sertão, a escreve porque ficou feliz com um relato simples, alguém ficou contente em saber que você ainda lembra dela.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Quanto tempo dura uma amizade?


Eu já pensei no fim da nossa amizade, na hora eu senti o quão amargo isso seria. Por isso quero deixa-ter sob aviso, se um dia isso acontecer por distanciamento, briga ou falta de tempo, preciso que você fique certa do meu amor.Sim, se daqui a dez anos me ver passando na rua e não formos mais AMIGAS, saiba que eu te amo, um amor resguardado, um carinho recolhido, mas insolúvel e do mesmo tamanho do nosso penúltimo abraço, um amor que nem a falta de encontros, de abraços e de contato diminui. Eu preciso que me prometa que quando eu passar na rua daqui a dez ano vai me gritar! Me dê um abraço apertado, é claro que vão correr duas ou três lágrimas, mas me conte que seus filhos já sabem ler, que seu marido trabalha fora ,que sua vida está corrida, que foi incrível me encontrar, provando que o nosso sentimento tinha raízes, e por mais que  sem folhas,ele estava fincado no chão, esperando a primavera. Esse amor se faz tão forte, feito de coisas boas, que mesmo depois de uma longa temporada fria, ele resiste, persiste

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ao meu homem


Não somos idênticos, somos exatos na nossa dissimetria, desproporcionais e inversos.
Eu sei a sua medida, eu caibo em você. Depois de uma dia engraçado, eu disse olhando para uma constelação qualquer que você era meu, você riu desdenhando do que eu disse, não acreditara. A verdade é que você é meu, mesmo que não saiba e não queira, mesmo que não seja, mesmo que seja só para mim. Eu caibo em você. Um dia você discorda de mim o tempo inteiro e eu não concordo com nada que você diz, no outro somos uma coisa só, não há nada que eu diga que você não grite "eu também". Quando você quer me abraçar eu recuso, quando eu quero você, você não vem, quando eu digo eu te amo você ignora, quando você diz quem não quer saber sou eu. Dentro de nossas obviedades e idiossincrasias, o que temos de mais forte em comum é o amor, eu você somos dois eternos apaixonados, um pelo outro, pela vida, por nosso amores tantos, pela planta, pela criança da praça, pela mulher da rua, pelo artista, por aquela música.  Eu caibo em você e você cabe em mim, eu sempre coube, desde aquele dia que nós nos cumprimentamos pela primeira vez, eramos "pequenos" e cabíamos um dentro do outro, crescemos juntos, aumentamos nossa alma e ainda nos encaixamos, como peças de lego, como quebra-cabeça, nenhum milimetro a menos. Nós tortos, eu para um lado e você para o outro, iguais nas nossas diferenças, exatos na dissimetria.
Isso se parece com uma carta de amor e é, de amor entre amigos. Ao meu melhor amigo, você.

μητέρα

Qual potência me prende? Sangue?  Ouço suas palavras vis, me aquieto! Você grita! Pensa que assim elas perfurariam mais depressa meu corpo, o corpo que você detesta. Eu corro enquanto posso, depois volto. Começo a arrancar as palavras que iam me atingindo o corpo e jogar com mais força em você, mas eu não posso, existe o sangue, nosso sangue.Durante 7 anos acreditei que isso não me machucava, lhe defendia para mim mesma "ho, não vê que que isso é desequilíbrio". Me enganei outra vez, as palavras cortaram, fizeram um grande estrago aqui, ele sangra, mas você e seu bando não vêem , nenhum de vocês vêem, talvez vejam e não sem importem. Vocês com seus lemas ufanistas que eu tanto gritei, não sentem e nem pensam nada além de (falsa) honra e imagem. Vocês nem possuem brasão.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Mergulho

Não mergulho mais fundo porque não aguento a verdade, não mergulho porque não quero descobrir que você é de mentira, que você inventa, se finge de você, se pinta e sobretudo, se projeta. Não mergulho por que não quero encontrar lembranças da noite que eu fingo que não lembro, a noite que eu descobri sua farsa de gente. Aquela foi a noite mais nítida da minha vida, mas eu permaneço fingindo que não me recordo, coloco a culpa no vinho barato e continuo acreditando em você, esse produto mal embalado.

Saciedade e Fome

Não há freios para nos, sempre erramos mais, sempre encontramos um jeito de deixar o mundo um lugar pior. Eu e você nunca encontramos o "bastante", não conhecemos a saciedade, somos uma eterna fome, uma sede. Prometemos deixarmos de existir, um para o outro, mas acabamos a noite declamando poesias e tomando um vinho digno de nós, vagabundo.

Elegância


Você é um péssimo poeta, mas eu ouço cada palavra atentamente, fingo que gosto,  na verdade odiaria apenas por saírem de sua boca. Agora entende porque bebo tanto?  Eu bebo para aguentar tudo que você não é. Eu bebo por que não suportaria sóbria sua mediocridade velada a dinheiro e a livros clássicos, que você não lê, mas exibe na sua biblioteca. Bebo para não esbravejar na sua cara que não há nada que me atraia em você, nem seu dinheiro, nem sua biblioteca fajuta, nem sua beleza apolínea, o que me mantem do seu lado?
  Eu fingo que lhe amo, e não é por cinismo, é por bondade. Eu fingo por que não sou perversa a ponto de dizer tudo sobre você á você mesmo: nada.

Papeis rasgados

Eu ali, rasgando papéis, escondendo coisas, querendo apagar provas, rasgando verdades. Sensação horrorosa. Permitindo a situação, negando, forjando. Doloroso! Eu ali, rasgando papéis, mentindo para você e para mim, espalhando  recortes por lugares para não ser descoberta. Eu ali, rasgando papéis, com raiva de mim, mas orgulhosa por tanta força de aceitar estar ali, rasgando mais que papéis, rasgando talvez a mim, rasgando quem sabe a única verdade que sei sobre mim.